terça-feira, 8 de julho de 2014

CRÍTICA, INCENTIVO, AUTOCRÍTICA, EGO E PROGRESSO: Um Editorial. By Nav

Muitas vezes queremos dizer algo, mas faltam as palavras certas para se expressar. Aí então alguém aparece com um texto maravilhosamente bem escrito que toca no ponto certo de uma forma muito lúcida e elegante, restando apenas o elogio e o compartilhamento. Vale a leitura!

O texto foi escrito por Nav (André Navarro) em 07 de julho de 2014. Originalmente postado no Facebook, rede social onde tudo o que compartilhamos se perde quase que imediatamente e cuja o alcance das postagens está cada vez mais restrito. Daí o interesse em preservar e compartilhar via blog.

André Navarro, mais conhecido como Nav, é um desenhista iniciante que já passou por todas essas dúvidas e hoje, em seu processo de aprimoramento, achou útil compartilhar conosco a experiência.

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Ser um artista é, a meu ver, querer ser reconhecido por transmitir um grau de paixão por um determinado tipo de criação na visão de nossa abordagem em particular.

Em suma: é querer ser amado, de alguma forma. É portanto, puramente falso, qualquer comentário que afirme categoricamente que alguém "não está nem aí pro que os outros pensam" quando se trata de arte, pois queremos chegar a seus corações.
Isso é indiscutível. Afinal, como um artista se propagaria sem isso? Como sua arte iria adiante?

Existe mundo afora uma gama absurda de vertentes artísticas, sobretudo no que diz respeito a estilos de desenho. Há profissionais maravilhosos, e lamentavelmente, também pessoas que simulam ser profissionais maravilhosos, por variados meios. Mas sabemos quando alguém é bom. E isso, também é indiscutível.

O que é discutível é a jornada para se chegar a esse patamar de excelência. E então vários fatores permeiam essa caminhada, como a crítica, a autocrítica , o incentivo e, por fim, o grande inimigo da jornada: o ego.

Se você almeja ser um desenhista que trabalha ativa e comercialmente, você tem que ter o preparo para essa demanda. Não adianta a sua mãe, sua namorada, seus amigos dizerem "po cara..isso ta demais", se no fundo do seu coração você souber que, friamente analisado, seu traço está AQUÉM de um determinado grau de excelência. Isso, longe de significar que você "é fraco" ou "fracassou", revela que você já deu o primeiro passo na construção desse ideal. E isso se chama AUTOCRÍTICA.

A autocrítica serve para nos lapidar, mas nunca para nos deter!
Aí é que está o diferencial. Mas veja: se essas pessoas, próximas de você, já gostaram do seu trabalho, é porque, independente do grau de excelência necessário para o mesmo ser comercial (e do simples fato de vc lhes ser querido), há algo ali. A autocrítica poe esse "algo" cara-a-cara com a frieza da realidade comercial. E faz você "jogar fora" o que não funciona. E estudar para incorporar ao seu trabalho elementos que funcionam, consultando livros técnicos , aulas e análise de artistas com quem você se identifica. Tem muita gente inclusive que é totalmente autodidata que foi la e venceu. Mas não se iluda: isso não é da noite pro dia.

Leva anos.

O ego, que nada mais é do que a nossa incapacidade de reconhecer nossas próprias falhas, é o inimigo definitivo desse processo. O ego faz um artista em formação se sentir "o máximo", o "virtuoso", quando, na verdade, ele só o é em sua própria mente. O ego não deixa que a autocrítica lapide suas habilidades. E ele se alimenta de basicamente duas coisas: orgulho e incentivos exagerados.

Crítica é algo a ser feito de forma SEMPRE construtiva. Pois se define como incentivar sabiamente. E isso é uma arte em si, pois não fere a sensibilidade do artista e o impele a querer ir adiante.

É muito diferente (quando realmente houver potencial ali) você dizer:

... " cara.. se você der uma lapidada, não ha limites pra te deter..pois você tem o talento. Mas esse e esse detalhes, realmente você precisa dar uma trabalhada....mas refaça, refaça, e se você ainda achar que não está como queria EXATAMENTE, refaça. Não importa isso, de refazer. Porque é isso que vai te levar ao próximo nível"

Do que você dizer (sobretudo em redes sociais, quando o artista em questão não é nem um profissional atuante de fato e NEM SABE que você o está queimando para seus amigos e profissionais que estão lendo seus posts):

"nossa... o que dizer desse sujeito...que sem-noção...Lixo!!!
Essa gente não sabe NADA e se acha postando essas porcarias"

Esse último exemplo, eu particularmente acho, num primeiro momento, um equívoco. Na insistência, uma covardia ímpar, além de ser extremamente humilhante. Longe de ajudar a construir qualquer coisa, fere profundamente alguém que de repente nem tem meios para naquele momento ter um elevado grau de expertise, mas, por outro lado, tem uma vibrante força de vontade de ir além.
Isso não se faz. Ainda mais se a pessoa que o faz é um profissional com um certo nome. É anti-ético e imoral.

Eu mesmo, Nav, sou um cara ultra-crítico. Eu avalio severamente filmes, seriados, games, músicas, e obviamente estilos de quadrinhos que não me agradam. Por exemplo: detesto o Romita Jr. Não que ele não saiba desenhar (afinal, se não soubesse, NUNCA teria sido contratado um dia), mas simplesmente seu estilo não ecoa em mim. É questão de gosto. Ponto final. Mas o Romita Jr é um PROFISSIONAL atuante, não um estudante, um aspirante. Dizer para um aspirante que DETESTA seu trabalho é exercer uma crueldade. um sadismo. É mesquinho.

Portanto, se você recebeu um "detesto", não se deixe abater: geralmente quem não tem pudor para usar de um tom assim, não é tão bom quanto pensa. O mundo da arte tem telhado de vidro: veja bem pra onde você arremessa suas pedras.
E a internet, meus caros, torna esse mundo extremamente pequeno!

Acredite. Sonhe. Pratique e estude. Se organize pra isso. Eu mesmo sou uma pessoa que raramente posto algo meu, porque a minha autocrítica GRITA dizendo que não está no ponto ainda. Mas isso não é desculpa para me acomodar no ostracismo. É preciso se dedicar.

Faça clippings (espirais) de referências variadas, estilos, artistas que te inspiram. Use SIM de referências, afinal NINGUÉM DESENVOLVE UM ESTILO PRÓPRIO SE NÃO COPIAR BASTANTE UM DETERMINADO ESTILO ALHEIO até sua propria mente ir aos poucos mudando um detalhe aqui, outro ali, até dar a luz a algo completamente diferente. Sempre há um "crítico" que diz : "ah..mas você está copiando fulano!" Sim, E DAÍ? Faz parte do crescimento. Você não copia para puramente se safar, como o Greg Land, mas sim para APRENDER. Use referências SIM. Não copiando "igualzinho" a referência em questão, mas adaptando ao esboço que você já compôs.

Enfim, não se deixe intimidar. E acredite, sempre. Pois só a sua autocrítica pode te levar até a linha de chegada. Quando você estiver pronto, você estará e essa é a essência da arte.

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